quinta-feira, 2 de abril de 2009

Cenas cariocas: três dias em Botafogo

Peço licença aos leitores para falar sobre umas coisas que nada tem haver com o mercado.
Eu estou com um parente internado no hospital Pró cardiaco em Botafogo, na zona sul do Rio de janeiro.
Pra quem não conhece , o hospital fica em frente ao principal cemitério da cidade, o São João Batista.
Desde segunda feira presenciei três casos interessantes, que mostram um pouco da índole da minha cidade, dos nossos políticos , da vilolência que reina por aqui e do medo que assola seus moradores.
Vamos a eles.
Na terça feira dia 31 de Março ,por volta das 20 hs , eu havia acabado de chegar no hospital.
Pouco antes de entrar no estacionamento para entregar o carro para o manobrista vi aquelas placas obrigatórias:
"NÃO BUZINE , HOSPITAL"
Estava na recepção aguardando a atendente fazer um crachá com meu nome, quando uma barulheira infernal começou.
Eram sirenes no mais alto volume.
No começo achei normal, afinal , poderia ser uma ambulância com um paciênte em estado grave.
Mas os minutos passaram e o barulho só fazia aumentar, chegando "mais perto" de onde eu estava.
As outras pessoas logo se agitaram ,curiosas.
O som insuportável se aproximava a cada segundo.
Médicos e enfermeiras sairam da emergência para descobrir oque estava acontecendo.
Olhei pela janela e vi dezenas de motos da polícia militar.
Contei doze.
Todas com as sirenes ligadas a todo volume.
Estiquei o pescoço e vi três carros também da PM e mais dois carros a "paisana".
Imaginem o rebuliço na emergência de um hospital, tendo a sua porta pelo menos, PELO MENOS, 15 veículos fazendo mais barulho que um trio elétrico.
Uma funcionária saiu e aos berros , gesticulando muito, disse algo como(não dava pra escutar):
Vocês estão malucos?
Para vocês terem uma idéia, o barulho era tão alto que sequer escutei a pergunta da pessoa que estava me cadastrando:
Qual o seu nome, senhor?
Ela repetiu três vezes.
A recepção ficou lotada de médicos, enfermeiras, funcionários do hospital , todos revoltados.
A indignação tornou -se curiosidade.
Oque era aquele imenso aparato policial na porta do hospital?
Uma senhora ao meu lado disse:

Deve ser o Lula !!
Não era o Lula, mas um amigo dele.
A barulheira parou e 30 segundos depois,com violencia a porta da recepção é aberta por dois engravatados, com pinta de políticos ladrões, baixo nível.
Logo atrás o Governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, impecavelmente embutido num terno Armani azul marinho.
Eles entraram na pequena sala de espera e sem falar com ninguem, simplesmente entraram na emergencia.
A recepcionista ainda tentou impedi-los verbalmente.
Inutilmente.
A entrada foi triunfal e truculenta, típica daqueles que se acham acima da lei, das regras.
Logo depois o trio sai .
Descobriram que tinham entrado no lugar errado.
O Governador , sorridente , diz boa noite olhando pra mim e para os incrédulos parentes que ali aguardavam.
De mim ele ouviu, LITERALMENTE:
"Você é um irresponsável.
Chega fazendo esse esporro na porta da emergência onde minha avó está internada ".
Pensei em falar minha expressão característica:
"Vaza daqui, seu idiota".
Mas não disse, e agora me arrependo.
Outros começaram a dizer umas verdades para o Governador sem noção.
Ele se desculpou e saiu de fininho, correndo, rumando para ala do hospital onde estava a pessoa que iria visitar.
Entrei, vi a minha vózinha que me perguntou:
- Que barulho era aquele?
- Era o Governador, vó.
- O Sergio Cabral?
- É.
-Ele foi internado aqui?
-Não, deve ter vindo visitar alguem.
-Puxa eu já votei nele , há muito tempo atrás.
-Eu tambem vó.
-Na próxima eleição eu não estarei mais aqui.
Chorei.
Quarenta e cinco minutos depois as sirenes voltaram a todo vapor.
Era o Governador e sua trupe indo embora da mesma forma que haviam chegado.
CASO 2

Na segunda feira, antes portanto do caso acima,na mesma recepção, um novo aparato de segurança.
Dessa vez particular.
Oito seguranças cercando uma maca, atrapalhando o trabalho dos médicos.
De novo, como no caso do governador, aquelas pessoas achavam que o mundo estava a disposição da sua cliente.
Uma enfermeira levou uma trombada e caiu no chão.
Não ouviu perdão.
Uma senhora, da idade da minha avó, escondendo o rosto.
Parecia uma invasão de ternos de 80 reais.
Era Dona Lili Marinho, viúva do jornalista Roberto Marinho.
Embora discorde da forma, por razões pessoais, entendo os fins.
E o caso três explica um pouco isso.
CASO 3

Quarta, primeiro de abril.

No mesmo Pró cardiaco em Botafogo.
Pânico.
Funcionários do hospital , pacientes e acompanhantes desesperados.
Tiros.
Muitos tiros.
Mais sirenes.
Guerra civil.
Pessoas se abaixando.
Vietnan urbano.
Segue trecho de reportagem de um jornal carioca explicando o ocorrido:

"Quatro suspeitos morreram e dois ficaram feridos durante intenso confronto na Favela Ladeira dos Tabajaras, na Zona Sul da cidade.
... Traficantes atacaram com vários tiros os policiais do 19º BPM (Copacabana) que realizaram uma operação para coibir o tráfico na área.
Um fuzil G-3, 13 pistolas, duas granadas e cerca de mil munições de diversos calibres foram apreendidos.
Um dos suspeitos feridos foi encaminhado por policiais para a UPA de Botafogo com um tiro na barriga. Ele teria sido detido na Rua São Clemente, em Botafogo, quando tentava fugir dos policiais. Um outro suspeito que estava escondido em uma das casas da comunidade foi baleado com um tiro na perna."
"Moradores de Copacabana, Botafogo e Humaitá ficaram assustados com a ação que foi intensa durante pelo menos 20 minuntos."

Voltei.
Pra mim pareceu uma eternidade.
No fim das contas os 3 casos estão ligados.
O Governador responsável pela segurança pública da cidade estava lá no hospital no dia anterior.
No dia seguinte ,ali na esquina, havia uma Cabul.
Dona Lili, protegida por brutamontes por causa da incompetencia dele, e de seus antecessores.
E os bandidos correndo dos homens de sirene que importunaram a minha avó.
Tudo em três dias de botafogo.
Espero ter mais algum tempo pra rir disso tudo com a velhinha , no futuro.
Existe futuro?

3 comentários:

Anônimo disse...

Ray, sem comentários.....

Otimo artigo.

Desejo melhoras a sua avó!!!

edust

Hieronymus disse...

Se o marido dessa aí tivesse morrido há uns 40 anos, um programa desse teria mais audiência, ou talvez menos ainda, porque todo mundo que aparece estaria sendo mostrado pelo Datena, numa cela: www.youtube.com/watch?v=360S8gMnpyg&feature=player_embedded

E parabéns pelo tratamento ao Sérgio Cabral, esses esquerdistas gostam de igualitarismo, ele teve uma dose.

Anônimo disse...

It's hard to come by experienced people about this topic, however, you sound like you know what you're talking about!
Thanκѕ

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